quarta-feira, 4 de julho de 2012

Como gerar energia de uma frustração?


Muitas vezes, assim que acordamos nossa mente busca responder à pergunta: Que dia é hoje? O que eu tenho que fazer? Se surgir em nós um sentimento de dever e obrigação, logo nos sentiremos pesados e cansados. Mas se houver em nós curiosidade e interesse em aproveitar este dia como uma oportunidade única, sentiremos ânimo e alegria.

Se observarmos nossa conversa interior assim que acordamos, poderemos nos dar conta de uma atitude paranóica, baseada no medo constante de que talvez não nos adequemos às situações, e que, portanto, seremos rejeitados ou punidos. Como essa atitude mental já se tornou um hábito, não nos damos conta do quanto nos fechamos na tentativa de nos proteger do mundo, caso as coisas não ocorram como nos programamos para elas.


Lidar com a vida tal como ela é nos exige coragem, abertura e disponibilidade para o desconhecido. Olhar a vida como uma grande oportunidade de crescimento é abandonar o medo de que as coisas não venham a funcionar como gostaríamos.

Às vezes, estamos demasiadamente introspectivos e nos fechamos para olhar para os fatos da vida tais como eles são. A ênfase excessiva no mundo interno pode nos impedir de ter uma comunicação saudável, aberta e relaxada com o mundo externo.

Abrir-se para o mundo significa aceitá-lo tal como ele se apresenta, e na grande maioria das vezes isso significa enxergar o que não gostaríamos de ver. Na tentativa de olhar para o mundo como gostaríamos que ele fosse, nos iludimos. O antídoto da auto-ilusão é reconhecer nossas frustrações como auto-enganos e simplesmente trabalhar com os fatos da vida com abertura e curiosidade em conhecê-los mais profundamente.


Quando enfrentamos os limites impostos pela realidade externa nos deparamos automaticamente com nossos limites internos.

A cada interferência externa, podemos nos dar conta onde estamos internamente. Como diz Judith Viorst em Perdas Necessárias: Sonhar é bom, mas não basta. Desejar algo é o começo de uma idéia, mas traduzi-la em realidade é lidar com os impedimentos e as frustrações ao coloca-la em prática. Equilibrar os sonhos com as realidades exige tempo. Podemos levar muito tempo para aprender que a vida é, na melhor das hipóteses, um sonho sob controle e que a realidade é feita de conexões imperfeitas.


Quando aceitamos tais imperfeições sentimos calma e serenidade. Este sentimento revela nosso senso de realidade: o equilíbrio que rege a percepção de nosso mundo interior em relação ao mundo exterior. Quanto maior for a sensação de sermos iguais dentro e fora de nós, mais poderemos desfrutar desta coerência geradora de confiança e bem-estar.


Não precisamos nos cindir. Podemos perceber a realidade externa ao mesmo tempo em que reconhecemos nossas necessidades e prazeres internos.

No entanto, quando nos tornamos vítimas de nossas frustrações, aumentamos as chances de repetí-las logo mais. Da próxima vez em que as coisas não acontecerem conforme sua expectativa, diga simplesmente: Ok, hoje não deu certo, mas o que eu posso aprender com isso agora mesmo? Lembre-se: o fracasso não existe. O fracasso é uma idéia, uma maneira momentânea de perceber a realidade sob um olhar estreito, imediatista e limitado.


Como dizem os ditados populares: 'Nada dá certo de primeira vez' ou 'Só quem errou muito é que tem chance de acertar'.

Podemos ouvir conselhos sábios e animadores, mas a capacidade de se auto-estimular é uma habilidade que temos que treinar todos os dias. Em geral somos pessimistas. Temos o hábito interno de nos lamentar. Se passássemos um dia gravando nossos pensamentos cotidianos, iríamos nos surpreender do quanto estamos familiarizados em nos desestimular. Como gatos escaldados, temos medo do sucesso. Desconfiamos da felicidade. O importante é lembrar: somente nós podemos nos estimular interiormente a superar os bloqueios interiores.

Os bloqueios interiores surgem quando somos dominados pela opinião alheia ou não assumimos nossa própria opinião como possível e verdadeira. É preciso se arriscar novamente para superar o condicionamento de um bloqueio. Susto só passa com susto. Ou seja, muitas vezes temos que nos ver repetidas vezes frente ao que tememos para reconhecer que já somos capazes de enfrentar tal situação.

Um antídoto para esse tipo de bloqueio é treinar-se para encontrar soluções sem pedir tantos conselhos. Podemos exercitar a sensação de gerar para nós mesmos o que necessitamos saber. Por exemplo, muitas vezes buscamos testemunhas no ato de nossas decisões, quando na realidade já tomamos nossa decisão. Outras vezes buscamos pessoas que estão tão pouco envolvidas com a questão em si, que suas opiniões pouco nos importam. Desta forma, nossa comunicação é unidirecional: não estamos abertos para escutar o que os outros têm para nos dizer, apesar de consultá-los.

Temos uma lição a aprender: sem autêntico engajamento interior, nada muda. Podemos nutrir a disposição interior para agir de verdade. Se nos treinarmos em pequenas situações, aparentemente sem importância, nossa mente estará apta a reagir positivamente quando necessitarmos uma força maior. Desta forma, o que quer que digamos para nós mesmos terá muita importância. Estaremos nos levando a sério e nos divertindo ao mesmo tempo.

Não temos porque deixar que as frustrações nos paralisem. Por de trás de cada frustração há uma nova intenção que espera por ser vista, organizada e expressa. Há um pensamento que pede por um novo olhar, um novo ajuste, uma nova ordem. O caos pode ser uma boa notícia, pois nos anuncia que algo novo está por vir, uma nova chance.

Bel Cesar