domingo, 17 de fevereiro de 2013

Depois do despertar da Consciência do nosso verdadeiro Eu





Para entender corretamente as conseqüências e os efeitos produzidos pelo despertar da verdadeira consciência, é preciso saber que há dois aspectos implícitos na natureza do Si, a saber:

a) o aspecto da consciência e

b) o aspecto da energia.

Mesmo que estes dois aspectos estejam na realidade fundidos no plano espiritual, ao se manifestarem no plano pessoal, eles se dividem em dois, daí podemos subdividir os efeitos do despertar do Si em duas categorias, uma que se refere ao aspecto da "consciência" e outra ao aspecto da "energia".

Afirmamos implicitamente que encontramos uma confirmação de tudo o que foi dito acima no fato de o Si ou Alma relacionar-se com a personalidade do homem através de "um fio de vida", chamado sutratma, que, ao chegar ao veículo físico, se divide em dois ramos, um deles localizado no cérebro, na glândula pineal, e o outro no coração.

O primeiro é o aspecto da consciência do Si, o outro o aspecto da energia ou vida.

Quando surge uma centelha de contato entre a personalidade e o Si há, portanto, um despertar precípuo do aspecto da consciência, o qual proporciona um sentimento de auto-reconhecimento, iluminação e compreensão total da vida, mas também um aumento da afluência de energia espiritual para a personalidade através do fio que direciona o aspecto da vida, produzindo uma regeneração e uma estimulação dos veículos pessoais e dos centros etéreos, o que não se dá sem inconvenientes, mal-estares e perturbações.

Quanto ao aspecto da consciência, o mesmo já não ocorre.

Ao contrário, como dissemos, o despertar proporciona uma sensação de bem-estar, harmonia, alegria, luz: tudo se resolve e é saneado, enquanto o indivíduo se sente completamente realizado e em paz.

E isso acontece porque a posse, enfim, da "consciência" da realidade de si mesmo, o estar fora e acima de todo conflito, proporciona um estado de lucidez extrema, de visão e compreensão.

Já a afluência das poderosas energias espirituais para os veículos pessoais, ainda não de todo purificados, não está isenta de perigos.

Existe uma lei esotérica que explica como isso se dá.

Tal lei é chamada "Lei de degradação das energias", e conforme as palavras de A. Besant, que a ela se refere em seu livro Teosofia e nova psicologia, enuncia-se da seguinte forma:

"Quando uma força qualquer desce de um plano superior para um inferior, ela se sujeita a uma transmutação no veículo pelo qual desce, transmutação que depende da natureza do veículo. Nem todas as forças se transmutam, pois uma parte delas vai conservando a sua própria beleza e se afirma no mundo inferior em todo o seu esplendor espiritual, mas grande parte delas é alterada pelo veículo por que passa e se transforma na modalidade de energia à qual o veículo mais facilmente se presta" (p. 70).

Portanto, a energia espiritual pode ser em parte "poluída" e degradada pela impureza do veículo por que desce, podendo, por isso mesmo, aumentar e reativar aspectos inferiores, caso estes ainda estejam presentes no indivíduo.

A energia do Si é semelhante à do sol, que ilumina, aquece e vitaliza tudo o que com ela entra em contato, fazendo brotar "o grão e a grama", as  boas e as más sementes presentes na terra.

Portanto, num primeiro momento, a energia espiritual poderia levar à luz e acentuar mais determinados "erros" e desequilíbrios nossos, sobretudo do ponto de vista da utilização das forças pessoais e da direção que lhe imprimimos, o que se tornou em nós um hábito inconsciente.

Então, às vezes, pode haver em nós um dualismo entre o estado de consciência e a utilização das energias pessoais, as quais se dobram automaticamente a condicionamentos nelas impressos talvez em épocas remotas e por isso muito difíceis de superar.

Assim, pode acontecer às vezes que o despertar da Alma traga consigo não apenas alegria mas também certa problemática, pois somente então o homem toma consciência dos condicionamentos e da força de inércia de seus corpos inferiores, devendo por isso, na medida em que se sente livre, lúcido e realizado como consciência, lutar continuamente contra o chamado insidioso dos antigos ritmos.

"Enquanto vivia a vida animal dos seus corpos, o homem conhecia uma certa satisfação; mas, com a lembrança de sua verdadeira natureza, com a visão do mundo a que pertence, renasce nele a luta milenar para tentar se libertar da viscosidade dos mundos materiais em que se emaranhou, identificando-os com os seus corpos. Se até aquele momento não sentia os seus corpos como uma limitação, agora eles se tornam como a ardorosa camisa de Nexo, que quanto mais se lhe adere, tanto mais ele se esforça para livrar-se de seu contato". (Van der Leeuw: Deuses no exílio, p. 12.)

Após o despertar repentino do Si, pode formar-se em nós, portanto, um dualismo entre a consciência e as energias, dualismo que deveremos superar pouco a pouco elevando e sublimando as substâncias dos veículos pessoais e libertando-a de condicionamentos e automatismos.

O despertar, então, marca o início de um período de trabalho e transformação, ajudado pela nova consciência e pela visão da meta, os quais constituem o "fio de Ariadne" que nos permite descer até às profundezas de nosso ser, até às camadas mais profundas do inconsciente, nosso passado, para ali levar luz e consciência.

Com base nisso, não devemos desanimar após o despertar, tomados pela alegria, pelo êxtase, pelo sentimento de plenitude e harmonia indescrití- veis, não devemos nos deixar envolver pela euforia deste maravilhoso alcance, mas sim permanecer firmes, lúcidos e preparados, conscientes do trabalho que nos espera e confiantes de que poderemos levá-lo a um bom termo, agora que podemos "ver" e "saber", guiados pela nova consciência como por uma luz e de posse da chave que poderá nos ajudar a abrir as sucessivas portas que encontrarmos.

Além do mais, devemos proteger e alimentar continuamente a nova consciência que "nasceu" dentro de nós, como uma criança recém-nascida precisa ser protegida, bem-tratada e alimentada.

Não por acaso, o símbolo do Si, que acabou de despertar, é o de um recém-nascido, de uma criança profundamente sábia e luminosa, mas indefesa em face das insídias do novo ambiente em que se encontra e das forças adversas que pretendem sujeitá-la.

Este símbolo da criança recém-nascida refere-se ao aspecto da consciência, que é de fato "o filho" nascido da união do Pai-Espírito com a Mãe-Personalidade-Matéria (como já dissemos em outra oportunidade); filho que deve crescer, tornar-se cada vez mais forte, firme e estável.

O despertar é um acontecimento extraordinário que transforma radicalmente a vida do indivíduo, abrindo um canal de comunicação entre a personalidade e o Si, mas não devemos esquecer que ao "fluxo" sempre sucede o "refluxo", e que mesmo a nível espiritual não deixa de vigorar a lei cíclica, segundo a qual se verifica periodicamente a oportunidade de contato e abertura ao Si e de afastamento e descida para o mundo pessoal.

Há como que uma "respiração da Alma", um ritmo interior de expiração e inspiração, gerando um movimento de afluxo e refluxo de energias espirituais do Si para a personalidade, segundo fases precisas que devemos aos poucos aprender a conhecer.

O contato, ou despertar, ocorre sempre no período de "afluxo" das energias do Si para a personalidade, mas cedo ou tarde suceder-se-á inevita- velmente a fase de "refluxo", cujo efeito será o de um esmorecimento da lembrança da experiência vivida, uma atenuação do "estado de graça" e, em determinados casos, até mesmo o reinicio de uma fase depressiva e sombria, a "noite escura da Alma".

Um grande santo e místico, S. João da Cruz, descreve esta penosa experiência detalhadamente em seu livro intitulado justamente A noite escura da alma.

Os sintomas e as manifestações desta fase são muito semelhantes aos da doença psíquica denominada "psicose depressiva".

Assagioli, em seu artigo "Desenvolvimento espiritual e doenças nervosas", descreve os sintomas dessa experiência da seguinte maneira: "... um estado emotivo de intensa depressão, que pode chegar ao desespero; um senso agudo da própria indignidade; uma forte tendência para a autocrítica e a autocondenação, que em alguns casos chega até mesmo à convicção de que se está perdido ou condenado, um sentimento penoso de impotência intelectual; enfraquecimento da vontade e do autodomínio, desgosto e grande dificuldade para agir".

Esse estado é muito penoso e doloroso, mas a sua causa não é somente o afastamento do efeito do despertar e seu enfraquecimento, mas também o processo de transmutação em curso no aspirante, devido à penetração da energia do Si nos veículos e ao despertar dos centros.

A transmutação das energias inferiores em energias superiores e a sublimação são quase sempre difíceis e dolorosas, dando origem a um sentimento de perturbação interior.

É preciso, portanto, saber que após a abertura para a nova consciência e a maravilhosa experiência do "despertar", sucedem-se fases menos radiosas e felizes, mas cheias de intensa atividade e experiências interiores.

Começa, a partir desse momento, a verdadeira obra alquímica pela qual a personalidade deve aos poucos se purificar, transformar e sublimar-se, gerando assim alimento, vida e energia para o Si criança, para a consciência desperta que deve crescer, tornar-se cada vez mais forte e clara, alimentando-se através da "Mãe", que é exatamente a personalidade com substâncias e energias em estado de matéria frente ao Espírito.

À medida que a consciência do Si se torna mais forte e estável, a personalidade e o eu inferior enfraquecem e perdem vitalidade, conforme a lei do sacrifício, que é o segredo da sublimação.

É esta alquimia espiritual pela qual o ouro do Si superior é produzido pela transformação das substâncias inferiores brutas.

Está claro, portanto, pelo que foi dito até agora sobre os estados que se apresentam no indivíduo após o despertar do Si, que as eventuais dificuldades e possíveis inconvenientes provêm sobretudo da maior afluência de energias espirituais para a personalidade ainda não completamente purificada.

Do ponto de vista da consciência, tem-se uma iluminação, uma revelação, uma abertura e uma nova orientação que jamais se apagarão da nossa mente, constituindo doravante uma ajuda, uma força, uma espécie de "sinal de reconhecimento", que serão para sempre parte integrante da nossa natureza.

Quanto às energias, porém, é preciso estar atento para saber canalizá-las e direcioná-las corretamente para a obra de transformação e regeneração dos veículos pessoais que se inicia após o despertar.

O único perigo que pode se apresentar à consciência é a diminuição da lembrança e do estado de exaltação e alegria que se sucedem à iluminação, e a possibilidade de que, ao tornar-se o novo estado interior um fato habitual, perca ele um pouco da sua maravilhosa luminosidade e extraordinariedade.

Mas não devemos nos prender aos efeitos secundários e não-essenciais do "despertar", quais sejam, justamente, a euforia, a maravilha, a comoção, a "despertar", quais sejam, justamente, a euforia, a maravilha, a comoção, a felicidade e a alegria.

Devemos, pelo contrário, cultivar e manter vivos o que são os verdadeiros resultados, ou seja, a clara visão da meta, a orientação segura e firme, a superação do eu ilusório e a compreensão do verdadeiro significado da vida (para mencionar somente alguns) que fazem parte de um real amadurecimento interior, de um crescimento que não pode retroceder.

A enorme afluência de energias superiores, ao contrário, como já mencionamos acima, pode produzir em alguns indivíduos menos firmes, desequilíbrios temporários, mal-estares e dificuldades que se pode agrupar sob o termo genérico de "estímulos", isto é, uma galvanização da vibração dos veículos pessoais ou dos centros etéreos, com aumento da atividade e das manifestações próprias a um determinado veículo ou centro.

Já nos referimos, na primeira parte deste livro, aos distúrbios que se podem verificar por esse motivo, antes mesmo do despertar, sempre que haja 202 um aumento da afluência das energias espirituais para a personalidade.

Como é óbvio, após a abertura do canal em direção ao Si, após o contato verdadeiro, a afluência é ainda mais forte e os efeitos muito mais evidentes.

O centro situado no alto da cabeça começa a se ativar, o centro da garganta e o centro do coração despertam e o centro entre as sobrancelhas começa a exercer a sua função.

Tudo isso significa movimento de energias, transferência dos centros situados abaixo do diafragma para os de cima, desenvolvimento de qualidades, manifestação de novos aspectos e necessidade de readaptações e reequilíbrios "em novo comprimento de onda".

É lógico, portanto, que o indivíduo que atravessa essa fase, venha a sofrer mal-estares, momentos de perturbação e até mesmo doença, pois ele mesmo é o campo em que se está cumprindo a transformação, onde se opera a "transubstanciação" das energias pessoais em energias espirituais, e onde se prepara a transição do IV para o V reino.

Às vezes, pode acontecer que ele não saiba claramente o que se passa em seu interior, pois este complicado processo pode todo ele se verificar até mesmo a nível inconsciente, e experimentando então períodos de dúvida e sofrimento, nada podendo fazer senão esperar, abandonar-se ao divino que atua dentro de si.

Outras vezes, no entanto, devido à luz que recebe e à consciência desperta, tem a revelação dos abismos do seu subconsciente e das forças escuras ainda nele ocultas, sentindo-se vacilante pelo temor de não ser suficientemente forte para efetuar a "descida ao plano inferior", libertar estas forças e levá-las à luz para transformá-las em consciência.

Todavia, consegue afinal cumprir este trabalho guiado pelo seu Si, — ajuda e testemunha, — que lhe impede de recair vítima daquela escuridão e lhe indica o caminho, como Virgílio a*Dante, símbolo justo do aspecto objetivo e separado do Si...

Há um evento específico, em meio a todas estas provações e problemas, que é de enorme ajuda para o "despertar": o encontro com o seu Mestre.

Tal encontro não se dá no plano físico.

É um contato entre Almas, e se revela somente pelo repentino esclarecimento da própria linha de trabalho no campo espiritual, pela revelação da própria "nota", do caminho a ser escolhido para ajudar os outros, sentindo-se ele guiado, comandado e irresistivelmente levado por uma Vontade superior, talvez invisível, mas certa e com a qual se adere totalmente.

Ele sente que é integrante de um grupo mais amplo, que não está só, que faz parte de uma totalidade e representa um aspecto, uma nota, mesmo que infinitesimal, de um Plano mais amplo e universal.

De fato, como já tivemos oportunidade de mencionar, pelo despertar do Si o homem passa do nível de aspirante espiritual para o de discípulo, sendo esta uma maneira de dizer que, tendo superado o eu egoísta, agora ele pode colaborar com o plano evolutivo para a Terra, pondo-se a serviço das Forças Superiores, dos Grandes Seres que por detrás do véu guiam o destino da humanidade.

Começa o período fecundo do "serviço", do amor participante, que pode se manifestar através do centro do coração desperto e que é um dos efeitos fundamentais do despertar do Si.

Fonte: 
MEDICINA PSICO-ESPIRITUAL 
Angela Maria La Sala Bata
Tradução de Pier Luigi Cabra



SINOPSE:
Este livro é uma indagação sobre as verdadeiras causas da doença e sobre o seu significado evolutivo e espiritual.
Medicina Psico-Espiritual é uma tentativa de criar uma ponte entre a Medicina do Ocidente e a Medicina do Oriente, entre a interpretação psicossomática, que se baseia na psicologia profunda, e a visão intuitiva da Medicina Esotérica, que vê o homem como um centro Consciência Espiritual que procura expressar-se por meio de um corpo e de uma psique visto como um agregado de energias.
Como em todos os livros a Autora usa uma linguagem acessível, obediente a uma norma que ela própria estabelece nas primeiras páginas deste volume: ''O dever do estudioso de esoterismo, hoje, é o de estar no mundo e não o de abstrair-se dele, e de levar ao mundo o conhecimento e a luz que ele possui, tornando-se intérprete das verdades ocultas e traduzindo-as em termos compreensíveis e aceitáveis.''