sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O universo vivo em você





"Acredito que todos os ensinamentos filosóficos sobre a vida são processos, maneiras de compreender num dado momento um determinado evento e provocar um novo olhar para a realidade. Este novo olhar lança uma mudança, um novo processo que se opera na rede de inter-relações entre você e o mundo. Mas estes ensinamentos não podem ser tomados como verdades absolutas. O erro a que caímos quase sempre é rotularmos este ou aquele ensinamento como uma “verdade”, e assim, perdemos o que mais de amplo e vasto o ensinamento está indicando. Quero dizer que todos os ensinamentos de todos os sábios da humanidade, tais como Sócrates, Platão, Jesus, Buda, Gandhi, São Francisco de Assis, Meister Eckart, Krishnamurti, Sartre, Niestzche, Osho, e muitos, muitos outros, são como dedos apontados para a lua. Você precisa olhar para aquilo que o ensinamento indica e provoca (a lua), e não o ensinamento em si (o dedo). Porque o ensinamento em si é vazio, é um retalho de palavras que entram no cérebro e fazem ou não um certo sentido, dependendo da percepção de cada um. Exemplo: não adianta tentarmos compreender alguém explicar em quinze minutos a teoria da relatividade de Einstein se não temos prévias informações que nos possibilitem o entendimento. Quando o nível de compreensão de algo é mais abstrato, precisamos de um pouco de estudo, um pouco de pré-interesse, caso contrário, com certeza, o dito não nos dirá nada, e nossa reação será hostil.

Os ensinamentos dos sábios são como placas de sinalização. Se você quer ir para São Paulo, você seguirá placas indicativas. Você não pega a placa para si mesmo e imagina que está em São Paulo. Você usa a placa como um meio. Buda dizia que seus ensinamentos eram como um barco que você atravessa até a outra margem. Mas você não leva o barco nas costas depois que atravessa. Buda dizia que os ensinamentos espirituais, se compreendidos, tem uma existência temporária, porque servem para algo, servem para indicar algo, algo além deles mesmos, mas jamais eles mesmos. O erro nosso é sempre imaginar que um pensamento possa conter uma verdade. Verdades são mutáveis num universo sempre transitório. A ciência bem sabe disso, e tem mudado bastante muitos conceitos nas últimas décadas. A física quântica tem revolucionado o mundo subatômico. A micro-biologia tem notáveis estudos que podem beneficiar a humanidade futura no combate a muitos males, antes considerados insolúveis. A espiritualidade está trazendo novos contextos para a vida do homem, hoje não só restrita ao contexto religioso tradicional, mas amplamente divulgada como algo livre, patrimônio do próprio homem, sede da beleza, da bondade, e da compaixão humanas. Religiosidade nada tem a ver com dogmas, mas com amor, com o saber lúcido da poesia da vida. Religiosidade é um bem natural, e jamais pode ser algo imposto de fora para dentro, mas um desejo espontâneo da alma por liberdade, justiça, e paz.

Estes ensinamentos apontam para algo que nada tem a ver com o pensamento. Em verdade, espiritualidade é uma busca do espaço anterior ao pensamento. Uma reconciliação do homem com a natureza, da qual ele sempre fez parte, mas que se divorciou em pensamento e em teorias dogmáticas. O corpo é natureza, e tem sua sabedoria própria. O universo respira por seu corpo, purifica seu sangue, faz você lembrar que precisa comer, dormir, amar... Os ensinamentos são válidos quando despertam amor, quando amadurecem as relações, quando abrem-nos para um silêncio que só os mais íntimos de suas almas conhecem... Os ensinamentos apontam para o seu sempre eterno refúgio: Você mesmo! Ali, você não tem palavras, nem argumentos, nem idéias. Está nu, diante da vida, da natureza. Ali, você é puramente humano. Nem santo, nem pecador. Simplesmente você mesmo. Sem definições nem conclusões."

Swami Sambodh Naseeb